domingo, 10 de maio de 2009

O Rio de Janeiro Continua Lindo





Acredito mesmo que o Rio de Janeiro é a cidade mais linda do mundo. A geografia especial de suas várias baias revela uma criatividade extraordinária da natureza. Foi a capital mais charmosa que nosso país teve. Seus encantos foram gravados em minha memória de adolescente pelas descrições feitas com maestria nos romances de Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar e Machado de Assis, principalmente. Quantas vezes vibrei e chorei pelos amores sofridos de Helena, da Moreninha e de tantas outras heroínas do Romantismo brasileiro.
Dei-me de presente após meu último aniversário, uma viagem ao Rio. Mas, curiosamente a escolha da cidade se deu por duas questões relacionadas a outras estéticas que não a geográfica. Em primeiro lugar recebi o convite de uma amiga para voltar ao Rio e, segundo, queria participar pela primeira vez do Congresso Brasileiro de Psicanálise.
Foi uma viagem perfeita, exceto pelo atraso costumeiro em Brasília. Cheguei ao Rio com uma desfasagem no tempo, o que me deixou assustada, visto que perdi o horário do ônibus que me levaria à Região Serrana. Aceitei participar de um evento que seria realizado em Nova Friburgo no dia seguinte. Tentando evitar qualquer transtorno, comprometi-me em chegar à cidade no dia anterior ao evento. Tive que pegar o ônibus das 21h30, o que me obrigou a esperar quarenta e cinco minutos. Puxando uma mala enorme de um lado e segurando o laptop de outro, arrastei-me pela rodoviária em obras, onde nenhuma indicação era oferecida para orientar os viajantes. Os passageiros circulavam entediados, meio sonâmbulos e olhavam os demais com desconfiança e desinteresse. Penso que as rodoviárias são sempre melancólicas. Talvez, por possibilitarem mais despedidas que reencontros.
Estava faminta, depois de recusar todos os lanchinhos da Companhia Aérea . Enquanto esperava, minha fome elevou-se a proporções absurdas. Para agudizar o quadro minhas costas desalinhadas por lordose e escoliose, doíam terrivelmente. Minha sensação de solidão aumentava, à medida, que a agradável temperatura, após a chuva, ameaçava cair.
Quando entrei no ônibus, senti-me aliviada por fugir da rodoviária fria e então acreditar que encontraria os amigos que me esperavam e cumpriria o compromisso assumido.
Subir a Serra é sempre meio misterioso e se for à noite, mais misterioso me parece. A estrada se enrosca pelas encostas das montanhas, fazendo o ronco dos carros soar lúgubre pela força desprendida. Olhava pela janela e só via a silhueta negra das árvores sobreviventes da Mata Atlântica que acompanhavam nosso caminho. Sentia-me adentrando um outro mundo de mistérios e silêncios que só algumas vezes alcançamos. Em meio a pensamentos confusos adormeci por duas horas.
Já estávamos chegando à Friburgo quando acordei. Deparei-me com a luz suave das ruas com suas casas desprenciosamente charmosas. Desci na rodoviária e logo deparo-me com meus anfitriões. Imediatamente, a temperatura sobe, a solidão desaparece e o cansaço não existe. Quando os amigos nos acolhem parece que há uma mudança na própria estação. Parecia que tínhamos chegado à primavera. Um longo abraço revela a ternura e a alegria do reencontro. Enquanto eu relatava as peripécias do dia minha amiga nos dirige para o seu apartamento.
Era meia-noite e quinze e eu encontro além do aconchego do abraço, do sorriso caloroso, do apartamento aconchegante, uma mesa posta cheia de mimos. Tudo era sinônimo de carinho e cortesia: o carícia da fumegante e cremosa sopa de ervilha derreteria até o gelo dos polos, o bolo com cobertura de chocolate para comemorar o meu aniversário do dia anterior era o próprio pecado da gula. Momentos assim, transformam qualquer experiência em aventura amorosa. É bom ser gente quando encontramos gente que nos faz pensar em nossa espécie como ser sagrado. é bom ser gente quando as relações são feitas de ternura e confiança. É bom ser gente quando se acredita na bondade humana.
O Rio de Janeiro, dessa vez trouxe para mim mais experiência estética, fiz cursos, vi peças tetrais, acompanhei exposições internacionais, entretanto o que foi tocante, mesmo, e deixou marcas mais profundas foi a experiência do aconchego dos amigos, foi o calor da amizade e a beleza da generosidade da Geni, do Anacleto, da Bárbara, da Cristina e da Ana Carolina.
Os amigos transformam as estações: eles fazem você chegar à primavera sem passar pelo inverno. Eles fazem florescer seu coração em qualquer tempo. Quando lembrar do Rio, lembrarei sempre que além do Corcovado, existe a Serra e com ela a mistura de: sopa quente, bolo com cobertura de chocolate regados à sorrisos que só os amigos verdadeiros sabem dar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário