domingo, 17 de maio de 2009

SER FELIZ É UM APRENDIZADO POSSÍVEL


Somos interpelados, a cada dia, por desafios que se apresentam das mais variadas formas. Num plano global estamos todos apreensivos com as mudanças climáticas que ameaçam a qualidade da vida do planeta. Enquanto brasileiros vivemos em um ambiente de calamidade pública, pois, esse ano de 2009 trouxe, como consequências das alterações climáticas, a seca rigorosa nos estados do sul e sudeste e trouxe também, as enchentes que aumentaram e continuam aumentando a miséria dos nordestinos. De um modo ou de outro, somos afetados e temos muitos motivos para preocupações.

É difícil imaginarmos alguém, nesse momento, que não tenha alguém da família sofrendo as dores de alguma doença ou não esteja lamentando um amor ou um emprego perdido. São inúmeras as situações de dor e sofrimento que seria impossivel descrevê-las nesse espaço.

Por essas e outras situações muitas pessoas sucumbem ao sofrimento e não conseguem encontrar justificativas para alimentar estados de alegria, de motivação e de esperança. Aqui não estou me referindo a pessoas efetivamente depressivas. Estou aludindo àquele tipo de pessoa que mesmo sendo "saudável" encontra sempre justificativas razoáveis para posicionar-se de modo pessimista e cuja atitude cotidiana é sempre de desesperança e de descontentamento.

Talvez fosse necessário lembrarmos que a vida não é algo estático: é movimento contínuo. No filme e no livro "Ponto de Mutação" a personagem principal dá um conceito simples e, ao mesmo tempo, complexo da vida, enquanto fenômeno biológico, que se aplica a todas as demais dimensões da vida: "a vida é auto-organização". Enquanto processo requer um metabolismo ativo. Para quem espera que a vida seja um estado de plenitude, sem dúvida encontrará somente frustração. Ela exige, para cumprir seus ciclos, disponibilidade para o movimento e para as possibilidades de mudança.

Somos um espécie implicada em processos dinâmicos, tanto biologicamente, quanto psicologica, social e culturalmente. O fato de nascermos desprovidos de qualquer autonomia, nossa sobrevivência se da na relação de aprendizagem que estabelecemos com o nosso meio social e cultural. Toda a continuidade de nossa vida depende dos aprendizados que realizamos. Começamos por aprender a comer, a andar, a falar, a pensar etc. Cada aprendizado desse nos impele a ultrapassarmos um estágio, a superar um modo de ser para atingir um outro nível.

É paradoxal com a própria vida, a atitude de apatia e passividade de muitas pessoas que "esperam", ou nem esperam, ser feliz, compreendendo a felicidade como um estado de realização ou de preenchimento de todos seus desejos, suas vontades e suas fantasias. Será desejável sermos capazes de atingir a plenitude no aqui agora? Será que nossa maior graça não é, exatamente, sermos sujeitos, cujo desejo nos impulsiona para algo mais? Ser transcendente não é ser capaz de ir além? Se ser feliz é estar pleno o que resta, talvez, seja a morte.

Acredito na felicidade, mas numa felicidade feita de momentos cheios de graça e de delicadeza, onde sou capaz de me colocar como partícipe da dança cósmica que produz transformações e beleza em instantes fugazes aos quais me integro plenamente. Talvez fique mais claro o que eu digo, transcrevendo esse trecho de Cecília Meireles, citada no prefácio do livro Pedagogia da Terra pela Ângela Antunes:

"Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardin, quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com as mãos umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caiam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e vejo o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes um avião passa. (...) E eu me sinto completamente feliz. Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante de minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim" . (grifo meu).

Nenhum comentário:

Postar um comentário