domingo, 16 de agosto de 2009

Moda e Identidade

Uma vez ouvi o Carlinhos Brown falar sua concepção de moda de uma maneira tão apaixonada que me deixou surpresa. Eu imaginava que um sujeito aparentemente tão autêntico, excêntrico e até "exótico" estaria pouco ligando para o universo "fashion". No entanto, ele falava sobre o assunto com o maior interesse e com uma carga de informações surpreendentes.
Talvez a minha surpresa tenha se dado pelo fato de estarmos habituados a relacionar moda com as tendências massificantes que apriosionam as pessoas a determinados padrões. Durante muito tempo, os brasileiros da área da moda (e de outras áreas também), salvo excessões, copiavam tudo que vinha de fora, especialmente da Europa e Estados Unidos.
É verdade também que um número imenso de pessoas ficam ligadas nas novelas da Globo para se fantasiar com o modelito das principais personagens. É comum encontrarmos pelos mais diversos espaços "Babalus", "Viúvas Porcinas", "Marias de Fátimas" e mais recentemente "Mayas", "Melissas", "Ivones" etc.
Foi muito interessante ouvir o cantor mencionar seu envolvimento com a moda por ela representar para ele mais um canal de comunicação com o público. Ao citar sua preferência por alguns estilistas e relacionar com o valor de "um Miró" demonstrou seu apreço pela moda enquanto arte que expressa criatividade, sentimentos, liberdade individual e até o indizível de cada artista.
Senti-me próxima de sua percepção porque compreendo que o modo de vestir de alguém é o modo de recriar o próprio corpo, valorizando o que ele tem de melhor. Vestir-se é expressão e comunicação. São formas, cores e movimento que dizem sobre o seu humor sua criatividade e sua atitude diante da vida.
É óbvio que uma pessoa não é definida somente pelo que veste, mas o hábito ajuda a identificar o monge ou àquele indivíduo que quer se passar por monge. Assim se uma médica recebe seus pacientes sem o jaleco e com os seios apontando sob uma linda blusa transparente, alguém poderá acreditar que entrou no lugar errado, se a professora entrar na sala de aula vestida com uma roupa justíssima, com um decote de matar, os alunos compreenderão que seus interesses vão além de dar aulas ou mesmo se o gerente de um banco apresentar-se para atender com uma roupa gótica bem característica, poderá até perder clientes. É também óbvio que ninguém deixa de ser tecnicamente competente pela roupa que veste, no entanto produzirá muitos equívocos e muitas chateações.
Nos últimos anos o Brasil tem se tornado respeitado internacionalmente no quesito indústria da moda e as semanas de moda no País estão no calendário mundial. Ao acompanhar esse movimento tenho também percebido o interesse crescente da população em geral pelo assunto e o quanto os nossos criadores de moda têm exercido sua liberdade e inventividade, desprendendo-se dos padrões importados. Isso pode revelar um crescimento na auto-estima e no auto-conceito de nossa gente? Será que nos sentimos mais seguros diante dos outros povos para aprensentar nosso jeito de ser com nossas raizes, nossa história, nossa ancestralidade e nossa perspectiva de futuro?
Sou daquelas que acredita que a expressão e a autentidade de alguém pode e deve ser constituinte do seu estilo e o seu estilo nunca é algo isolado do coletivo. Portanto moda é expressão de identidade individual e coletiva. E moda é arte e cultura.