quinta-feira, 16 de julho de 2009

Somos o Céu e o Inferno

Somos ambivalentes, paradoxais, contraditórios, ambíguos, plurais... Somos uma espécie de grande complexidade. Em nós reina o humano e o divino, o amor e ódio, a poesia e a prosa simultaneamente e até interdependetemente.
Nossa estrutura biológica foi dotada em anos de evolução de competências tais que nos permitiram capacidades psíquicas extraordinárias. Tornamo-nos co-autores do mundo que nos rodeia. Somos capazes de reinventar as espécies, inclusive a humana. Estamos desbravando o universo ao nosso redor e já implantamos plataformas espaciais ha muito tempo.
Sabemos que somos uma espécie frágil que sobrevive porque está em rede de dependência. O que somos é fruto de relações sociais. Ou seja o outro nos constitui porque cuida de nós, nos ensina, diz quem somos, contesta o que fazemos, reinterpreta nossas percepções. Somos tecidos na teia das convivências cotidianas.
Entretanto, nada é mais difícil que a convivência porque agimos como se fóssemos a medida do mundo. Esperamos que as pessoas pensem como nós, sintam como nós e até projetem com exatidão o que nem pensamos e nem sentimos ainda.
Impomos ao outro a sagrada tarefa de preencher as nossas expectativas presentes e futuras.
E como é impossível nos frustramos profundamente com a incapacidade do outro.
Será que não percebemos que nós mesmos, enquanto indivíduos estamos sempre mudando. Nossos interesses não são os mesmos, nosso olhar muda de ângulo sempre... Por que esperamos que o outro nos compreenda e até se antecipe aos nossos anseios?
Sartre em sua autêntica percepção da prepotência e simultânea covardia humana disse: "o inferno são os outros". O inferno são os outros porque somos muito arrogantes para assumirmos nossas fraquezas e inseguranças. Colocamo-nos em um patamar de superioridade que não nos permite admitir que nossas certezas e verdades são parciais e efêmeras.
A maioria de nós não descobriu que nossa força está exatamente na nossa complexidade que articula nossas múltiplas facetas. Nossa matéria é feita de energia e nossa energia é feita com matéria. Somos amor e ódio, força e fraqueza, somos tempestade e bonança, somos Deus e somos diabo...
Conviver pode ser o hades ou o céu. Dependerá da capacidade que tivermos para aceitar o outro como outro. Somos diferentes, cada um traz uma história, cada um teceu uma vida e elaborou conceitos a partir de vivências únicas. Se formos honestos compreenderemos que aquilo que temos em comum uns com os outros é exatamente nossa capacidade de sermos diferentes e de mudar a cada dia.

Um comentário:

  1. É Rogener, somos o Yin e o Yang. Resta-nos aceitar os dois lados como partes de nós mesmos, e não projetarmos o "lado negro" nos outros.

    As relações sociais, a teia da vida e suas conexões ocultas, como diria nosso amigo Fritjof Capra, são processos complicados. A essência nos permite construir pontes com os outros seres vivos, entretanto, atualmente no nosso mundo ocidental, capitalista e egocêntrico, o normal é que cada se contente em olhar pra seu próprio umbigo.

    Parabéns pelo texto, Marcelo Torres.

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